Silvia enfrenta as agruras do subemprego. Ao mesmo tempo, Jerusa é testemunha do cotidiano vivido no bairro do Bixiga. O encontro entre suas memórias lhes proporciona transitar por realidades comuns às suas ancestralidades.
Trecho crítico:
“A diretora Viviane Ferreira demonstra empatia sincera pelas duas mulheres e por suas trajetórias específicas: uma senhora abandonada pela família e uma jovem homossexual lutando para sobreviver em meio adverso. A casa, espaço fechado onde aprendem a se conhecer, se transforma numa bolha cortada do resto do mundo, um espaço de proteção. O filme oferece às duas um parêntese da vida cotidiana, ou seja, um local onde a idosa possa enfim ter companhia, e a jovem possa finalmente encontrar um modelo à altura de suas aspirações. Por isso, é importante que a câmera filme a nudez da personagem sem qualquer fetichização, e que tenha a coragem de fechar o enquadramento numa calcinha coberta de sangue menstrual. O pressuposto da mulher reservada à vida doméstica – Sílvia bate de porta em porta fazendo pesquisa com mulheres sobre seu sabão de pó preferido – é contestada pela minúscula revolução interna em cada uma delas, dividida apenas com o espectador, em chave intimista.
Além disso, Um Dia com Jerusa transforma Léa Garcia, grande atriz brasileira, numa diretora em potencial: sua personagem, originária de uma família de fotógrafos, caminha pelas ruas com a câmera em punho, pronta a filmar abusos policiais e a sabedoria que vem da boca dos loucos. Garcia se converte simbolicamente em alter-ego de Viviane Ferreira enquanto assume o protagonismo do discurso: dali em diante, é o ponto de vista dela que veremos. O filme, portanto, não é construído sobre Jerusa, tendo-a como tema, e sim com ela.” (Bruno Carmelo, site Papo de Cinema)