Sinopse: Em uma terra banhada de sol, durante a maior seca que o sertão nordestino já viveu, A menina Rosa mergulha em uma longa travessia pela caatinga árida e fantasiosa, em busca de um encontro com nossa senhora Imaculado, a rainha do sertão.
Crítica: "A seca e a fome são elementos que marcaram presença na história do cinema por diversas vezes, e o diretor e roteirista Rogério Sagui corria o risco de cansar o público com uma narrativa repetitiva e já muito explorada. Porém, Rosa Tirana dribla o clichê entregando uma visão doce e otimista do sertão.
O longa abre e encerra com uma animação que remete à literatura de cordel, preparando o terreno para que a trama fabule uma aventura infantil com toda a liberdade lírica que merece. Apesar dos poucos diálogos, há muito espaço para a performance. José Dumont, em uma das sequências iniciais, dita o tom poético de Rosa Tirana em seus monólogos, evocando teatralidade ao permitir que a obra pare para que se ouça o texto representado.
Embora caminhe pelo fantástico exaltando a fé, a trama não deixa de sutilmente referenciar a luta de classes, vilanizando um coronel numa cena muito bem construída na qual ocorre uma ameaça de abuso. O contraste vem na comparação da oferta de perigo por intermédio de alguém abastado com a partilha do pouco que se tem pelas mãos de uma humilde família de retirantes.
A fábula segue com a interação de personagens fantásticos. Do folclore da seca, surgem as criaturas de barro e o profeta da chuva. As festas nordestinas, com suas cores e danças, marcam a espiritualidade e salvação. Há um pequeno problema no ritmo, uma cauda de uma cena a outra que estica os vazios em excesso. Contudo, é algo que se paga com um final catártico onde a poesia extrapola o limite do belo através de uma potente construção imagética do milagre.
Rosa Tirana subverte a estética da fome que culmina em violência ao trazer uma mensagem de fé e esperança, na qual a condutora é a inocência infantil. E o faz com uma simplicidade capaz de atingir todo tipo de público. Ao exaltar suas raízes mostrando os problemas, mas também suas belezas e riquezas, Sagui mostra um caminho que se apoia na união e hombridade, na nobreza e cultura de um povo que embora não tenha nada, tem tudo." (Tayana Teister, site Cinema com Rapadura)