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PALOMA
Fotografia do filme Paloma, de Marcelo Gomes, SP, 2022, Ficção, 103 min. Zé, um homem negro, de cabelos curtos, crespos, está de cavanhaque, tem uma fisionomia séria, usa blusa branca, terno preto com detalhes dourados, e gravata cinza. De braços dados com Paloma, mulher trans, negra, cabelos curtos adornados com véu branco, maquiada com sombra dourada e batom vermelho, exibe um largo sorriso. Nas mãos usa luvas e segura um buquê de rosas brancas.
Direção:
Marcelo Gomes
SP, 2022, FICÇÃO, 103 min., Cor, DCP/’H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Sinopse:

Sinopse: Paloma é uma mulher trans que está decidida a realizar seu maior sonho: um casamento tradicional, na igreja, com seu namorado Zé. Ela trabalha duro como agricultora em uma plantação de mamão e está economizando para pagar a festa. A recusa do padre em aceitar seu pedido obriga Paloma a enfrentar a sociedade rural. Ela sofre violência, traição, preconceito e injustiça, mas nada abala sua fé.

Crítica: “Paloma é uma mulher transexual, negra, nordestina, agricultora e analfabeta. A personagem, maravilhosamente interpretada por Kika Sena, encarna uma série de “pecados” que a tornam um alvo de ódio em meio a uma grande parcela da sociedade brasileira. Mas Paloma, o filme de Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus), dá espaço para o sonho da protagonista: se casar na igreja, de vestido, véu e grinalda.

Quem se lembrar de Uma Mulher Fantástica (Una mujer fantástica, Chile, 2017), de Sebastián Lelio, e O Pagador de Promessas (Brasil, 1962), de Anselmo Duarte, não estará indo muito longe. Mas, para além da questão transgênero e do conservadorismo religioso, Paloma fala de forma mais ampla sobre o Brasil.

Se o desejo de se casar tradicionalmente é um vislumbre do paraíso para a protagonista, é também um ponto sem retorno, a partir do qual sua vida se torna um inferno. O filme parece então se concentrar em um denso véu de hipocrisia que paira sobre a sociedade brasileira. Paloma é tolerada por seu marido e pela sociedade somente até o momento em que tenta ascender ao altar, um lugar que hoje (assim como há mil anos), não é permitido para ela.

É no momento que a protagonista decide desafiar o reacionarismo, e ocupar um lugar para além da subalternidade em que foi colocada, que as micro-agressões diárias tomam a forma de violência explícita. Marcelo Gomes, porém, filma todas as cenas com um respeito muito grande, nunca incorrendo na exploração da dor das personagens.

O diretor, aliás, encontra soluções visuais extremamente inteligentes para transmitir a opressão pela qual Paloma está passando. Em pelo menos duas cenas, a personagem é mostrada em tamanho minúsculo, rodeada por paisagens imensas, que revelam imageticamente a compressão que o ambiente exerce sobre a protagonista. Em um desses trechos, há ainda uma densa nuvem de poeira, que a encobre, apontando justamente para a névoa de perigo que envolve a personagem, estando ela casada na igreja ou não.

Paloma consegue colocar em tela um Brasil ao mesmo tempo muito maltratado, mas que não abandona o desejo. Uma personagem delicada, complexa e intensa, em um mundo brutal. Por baixo deste véu de hipocrisia reacionária, Paloma, com todos os seus adjetivos, segue sonhando.” (Lucas Oliveira, site Cinematório)

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