OS PRIMEIROS SOLDADOS
Num quarto de parede branca, à direita um jovem pardo, de cabelos crespos, curtos,de camiseta bordo, de braços cruzados, está sentado numa cama com uma mala aberta à sua frente. Ele está voltado para um homem à esquerda, de braços abertos segurando um tecido pink, transparente. De frente para nós, ele é branco, tem os cabelos curtos e usa uma camisa azul clara, aberta na frente. Tem a cabeça inclinada para o alto e o joelho esquerdo levantado. Atrás dele tem uma penteadeira, à direita, uma porta bege; no meio, na parede, um pequeno quadro, em tons azulados e desenhos de roupas colados e à esquerda, a claridade do sol adentra por uma janela.
Direção:
Rodrigo de Oliveira
ES, 2021, FICÇÃO, 107 min, Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Sinopse:

Sinopse: Em 1983, o jovem biólogo brasileiro Suzano tenta sobreviver à primeira onda da epidemia de AIDS. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima Suzano da artista transexual Rose e do videomaker Humberto, igualmente doentes.

Crítica: "Olhando para as ficções já feitas ao redor do mundo sobre o impacto da AIDS, parece imprópria a tarefa de compará-las com este novo filme do Rodrigo de Oliveira. Isso porque diferente deles, Os Primeiros Soldados não obriga seu tema à superexposição burocrática ou a uma caracterização redutiva do caos que a então epidemia causou, mas permite que outras sensações respirem pela liberdade com que o autor encara a própria linguagem da “ficção”.

Escolhendo a Vitória (ES) de 1982 como contexto tempo-espacial de partida, a trama situa seus personagens em torno dos primeiros suspenses a respeito da doença numa ponte Europa-Brasil sem muitos conhecimentos. Suzano, interpretado por Johnny Massaro, começa a sentir as mudanças no corpo e prefere se isolar com um grupo de amigos para atravessarem juntos a primeira e assustadora onda do vírus.

Mesmo tendo um protagonista bem desenhado como tal, a primeira irreverência desse filme é conseguir construir emoções genuínas ao redor dando o devido espaço para as outras costuras desse enredo sem que pareçam meros coadjuvantes. Renata Carvalho, que vive a amiga Rose, é de uma eletricidade impressionante, revestindo sua personagem de carinho e temor em momentos tão distantes e primordiais para o tom de luto e persistência que justifica a existência contemporânea dessa história. Em paralelo, Vitor Camilo (como o amigo cinegrafista Humberto) e Clara Choveaux (como a irmã enfermeira Maura), protegem seus personagens de grandes exposições para nos emocionar no momento certo.

A segunda irreverência é a missão de fazer desse filme um exercício quase metalinguístico. “Para de filmar”, pede Suzano na cena em que Massaro nos corta o coração de jeito incontornável, e a imagem se reestabelece. Foi como compartilhar um sonho, um respiro, uma vontade mútua de ser a contramão daquele destino que tantos “soldados” depois dele enfrentaram. Rodrigo de Oliveira, que também é o montador, sabe a medida certa para nos contar essa história tão rendida pelo próprio susto, ao mesmo tempo em que é tão coberta de compaixão e confiança – afinal, esse não é um filme do começo dos anos 2000, correto? Quando o filme se despede sob a voz de Ney Matogrosso nos versos explosivos de Fala, fica encrustada essa epifania de que os tempos seriam outros. (Arthur Gadelha, site Ensaio Crítico)

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