Sinopse: Sertão de Canudos (BA), 05 de outubro de 1897. Os quatro últimos sobreviventes do povoado estão entrincheirados pelo exército da República, defendendo a igrejinha construída pelo messias Antônio Conselheiro. Eles hesitam entre morrer de sede ou tentar furar a barreira para pegar água. Inspirado em “Os Sertões” de Euclides da Cunha.
Crítica:
"Na Terra do Sol" estabelece uma conexão direta com os eventos narrados em Os Sertões, livro de Euclides da Cunha, ao retratar os últimos momentos da Guerra de Canudos. O diretor opta por focar o drama nos sobreviventes da guerra, durante a decisão de morrer de sede ou arriscarem a vida para conseguir água. A tentativa é de atingir a dimensão humana do conflito, que é tratada com profundidade na obra de Cunha e a qual Lula tenta emular. O curta não só reconstitui o evento histórico, mas tenta refletir o dilema existencial dos envolvidos, ao menos no recorte possível, na resistência e sacrifício da população de Canudos. A relação do filme com o texto de Euclides da Cunha vai além da mera recriação dos fatos históricos e explora o sertão como personagem e como espaço de sobrevivência e morte, alinhando-se à visão literária de Cunha e sua descrição da paisagem do sertão como determinantes ao destino dos habitantes de Canudos. A aridez de uma natureza implacável que, assim como as forças inimigas, oprime os personagens, mostra o cenário como espaço inóspito e hostil, no que fortalece a ideia de que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte", ainda que vitimizado pelas circunstâncias históricas. O baiano Lula Oliveira, com seu minimalismo, permite que a atmosfera e a tensão sejam presenças fortes em cena, e os desdobramentos narrativos revisitam e reinterpretam eventos sob uma ótica crítica ao questionar narrativas oficiais. Resistência, violência e sobrevivência no Brasil de antes se tornam temas fortes que refletem na produção atual. (Marcelo Miranda)