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MOTEL DESTINO
Fotografia de uma cena do filme. Num quarto, três pessoas. À direita, aqui na frente, uma mulher e um homem, de perfil esquerdo, do peito para cima. Ela é parda, tem cabelos encaracolados, castanho escuro, na altura do ombro, com uma parte presa, usa um brinco de pérola e está com a mão no cabelo. Cabisbaixa, tem o olhar arregalado, perdido. O homem com a testa contraída, olha para ela, sério. Ele é pardo, tem o cabelo crespo, curto, a barba rala e o bigode, pretos. Usa uma corrente prateada. Mais atrás, à esquerda, deitado, outro homem de cueca, preta, está com as duas mãos quase fechadas sobre os olhos. A cabeceira da cama e a parede são vermelhas e pela direita entra uma luz que realça o vermelho no ambiente.
Direção:
Karim Aïnous
CE, 2024, FICÇÃO, 115 min., Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS
Sinopse:

Sinopse: Ambientado em um estabelecimento de beira de estrada no litoral cearense, a trama gira em torno de Heraldo, um jovem de origem humilde que chega ao Motel Destino e transforma radicalmente a vida dos que ali habitam. O motel, administrado pelo temperamental Elias e sua esposa Dayana, torna-se o palco onde as crônicas da realidade brasileira se entrelaçam. Em meio a esse cenário, um plano ousado de liberdade começa a se desenhar, retratando de forma íntima a juventude nordestina cujos sonhos foram sufocados por uma elite opressora.

Crítica: Hotéis e motéis já foram cenários de diversas obras-primas do cinema. Entre os mais famosos, estão Bates Motel (Psicose) e Overlook Hotel (O Iluminado). E, assim como esses dois, Motel Destino é um personagem dentro da narrativa. É hipnótico observar as luzes neon no seu interior. E os tons saturados de rosa e verde pulsam na tela como indicativos das pulsões de Eros e Tânatos que consomem o trio de personagens principais. Para Heraldo (Iago Xavier), o motel foi um local decisivo em sua jornada. Ora armadilha, ora refúgio, o motel lhe rendeu trabalho e prazer. Para Dayana (Nataly Rocha), um cárcere onde paixão e medo são cúmplices. Já para Elias (Fábio Assunção), seu castelo.

Os eventos que levam Heraldo a se refugiar naquele não-lugar acabam sendo menos importantes que a dinâmica entre ele e os administradores do motel. A relação que aflora entre Heraldo e Dayana vai além do prazer carnal. Claro que o sexo é convidativo pelo ambiente em si, mas a ideia é ainda mais atraente por ser proibida. Para além do desejo, Dayana enxerga Heraldo como um passaporte para escapar da tirania de Elias. E Heraldo, por sua vez, também enxerga Dayana como alguém que ele precisa salvar de seu algoz. Principalmente após presenciar as primeiras manifestações de violência física.

Motel Destino é o castelo de Elias, ainda que seja mais frágil do que se fosse feito de cartas. Ele, por sua vez, se sente um rei apesar de possuir nenhuma majestade. Elias é um homem do sudeste – a terra da oportunidade na qual Heraldo pretendia se aventurar – cuja maior conquista foi empreender com um motel de qualidade duvidosa no litoral nordestino. Ele também é como um “leão velho”, que se deixa levar pela bebedeira e só consegue manter a presença de sua companheira através da força e do controle financeiro. Ainda que saiba que a permanência do jovem ameaça seu reino, Elias insiste em torná-lo cada vez mais íntimo. Existe um fascínio sobre Heraldo aliado a uma falsa ideação de cumplicidade que, obviamente, será traída. De uma forma ou de outra, o dono do motel está hipnotizado pela presença do faz-tudo.

O sexo é algo que hipnotiza a todos os envolvidos, dentro e fora de tela. Karim Aïnouz traz o sexo da maneira mais natural possível, sem nenhuma estilização de performance. Ele está no cotidiano dos personagens tanto graças ao cenário, quanto em suas respectivas psiquês. Elias convida Heraldo a espiar seus clientes praticando um ménage através das escotilhas. Ambos acabam também presenciando dois jumentos copulando no quintal. A todo momento escutamos gemidos de transas que acontecem fora do quadro. E nós espectadores, voyeurs em poltronas confortáveis, observamos silenciosos todas as investidas sexuais que o diretor insere na narrativa.

Karim nos confronta com o ato de prazer de forma multissensorial. Até as luzes neon conferem tridimensionalidade e novas textura aos corpos nus. Quando exibe o coito de animais, é assertivo no que diz respeito à naturalidade do ato. E o som dos gemidos, que de início provocam desconforto, acabam sendo normalizados por nossos ouvidos. E dessa maneira, o diretor nos comprova seu posicionamento sobre o assunto. (Márcio Sallem, site Cinema com Crítica)

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