Gabriela se prepara para um recital de piano, mas um sonho com sua falecida mãe desestabiliza sua mente. A partir de uma série de encontros, ela se lança em uma jornada de reconciliação.
Crítica: Chegar até o novo filme de Bruno Ribeiro é atentar para a emoção da naturalidade do que é visto em tela, em meio aos fantasmas que nos atravessam dia a dia. É do jeito que melhor poderia ser, encontrar dentro dos processos que nos ferem, um passado que justifique todas as violências cometidas antes de nós, e que em nós ainda reverberam, tanto com força quanto com sutileza. Não é por mais discrição, que uma dor deixa de doer.
Ribeiro tem o lugar de fala que sua pele lhe deu, e utiliza sua vivência para criar uma realidade amplamente reconhecível a qualquer um, ainda que nunca vivida ou acessada. Gabriela, a pianista que é a sua protagonista, está prestes a se apresentar em um evento importante e, receosa do momento, extravasa sua preocupação não apenas nos gestos e movimentos. A jovem vê passar por ela anos e anos de opressão, da perda considerável dos direitos adquiridos, da solidão sentida por quem nunca teve verdadeiramente um apoio em momento crucial. O filme, que também é um compêndio da beleza banal como André Novais Oliveira sabe tão bem conceber, adentra esse terreno de uma criação fabular que pode estar ou não de maneira física, mas que nunca desaparece do psicológico.
Manhã de Domingo se insere em algumas vertentes da cinematografia atual, elencando o melhor de cada uma delas em cena. É um filme pessoal e muito consciente do que utilizar na política de corpos não-hegemônicos do audiovisual, também é um abraço a um cinema de caráter naturalista ao extremo, ao mesmo tempo em que abraça uma sutil cartilha de gênero. (Francisco Carbone , site Cenas de Cinema)