Sinopse: Pouco antes da pandemia, o mundo experimenta um fenômeno nunca antes visto. Marilene procura por sua filha Roberta, uma mulher trans que está desaparecida depois de não retornar de uma festa. Enquanto corre contra o tempo, ela descobre uma esperança para o futuro.
Crítica: "‘Brasil 2020, Pouco Antes da Pandemia’.
Não é à toa este letreiro ser a primeira informação a surgir na tela no início de Inabitável: durante seus 20 minutos, o curta pernambucano apresenta o retrato de um país marcado pela violência e intolerância religiosa alimentando o preconceito social e sexual. A caminhada de Marilene carrega um ar trágico, afinal, por mais que o desejo seja o extremo oposto, há uma sensação de que o final desta jornada tem poucas chances de ser feliz. Não é para menos: em 2019, o Brasil registrou uma morte de uma pessoa LGBT+ a cada 26 horas, isso, claro, dentro dos registros oficiais.
Com muita elegância, Enock Carvalho e Matheus Farias denunciam esta violência rotineira em uma ida de Marilene ao IML ao mesmo tempo em que mostram as raízes dela. O discurso de ódio embutido na intolerância religiosa durante a pregação de um religioso dentro do metrô em que Marilene utiliza no início de Inabitável e o descaso histórico do Estado em relação a corpos pretos e trans, o que a desestimula a procurar a polícia para pedir ajuda, ilustram este cenário de intolerância completa a pessoas LGBT+ com raízes profundas dentro das fundações da sociedade brasileira.
Diante deste cenário desolador e infernal, Inabitável, porém, assim como Marilene, não se entrega e resiste. Tal resistência chega através daquilo que a arte e o cinema podem oferecer: o exercício de imaginação, o livre pensar, onde as estruturas podres de nossa sociedade não podem alcançar mesmo que tentem com todo o seu autoritarismo e repressão.” (Caio Pimenta, site Cineset)