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GLAUBER, O FILME - LABIRINTO DO BRASIL
Fotografia preto e branca, de uma cena do filme. De perfil esquerdo, do queixo para cima, Glauber Rocha olha para o horizonte e tem a mão direita na testa, pensativo. Uma luz intensa clareia suas bochechas e uma leve fumaça se desfaz atrás de mão.
Direção:
Silvio Tendler
RJ, 2003, DOCUMENTÁRIO, 98 min, Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Sinopse:

Em ‘Glauber – o filme, labirinto do Brasil’, Silvio Tendler homenageia uma das figuras seminais do cinema brasileiro a partir da sua morte, em agosto de 1981, e compõe um mosaico com cenas do enterro, entrevistas de Glauber Rocha e de seus amigos. Glauber revolucionou o cinema. Com seus filmes, propôs uma revisão radical nos conceitos culturais do Brasil e influenciou outras cinematografias. O documentário mostra um homem inconformado, caótico, provocativo, que falava sem claquete, pensava grande, capaz de identificar talentos em seus amigos, dono de uma energia pulsante que nunca era estancada e que usava a palavra como pregação.

Crítica: Um dos equívocos mais recorrentes no exercício da crítica cinematográfica é o de reclamar que o cineasta não fez o filme que ele (o crítico) esperava que fosse feito. É o que se tem percebido em relação ao documentário Glauber – O Filme, Labirinto do Brasil, de Silvio Tendler. Por que um documentário sobre Glauber Rocha necessitaria ser fiel à estética de seu personagem? Talvez esperassem um novo Rocha Que Voa, o vigoroso filme de Eryk Rocha, fortemente influenciado pela obra do pai.

Glauber – O Filme não é um filme de Glauber, nem de Eryk, e sim um filme de Silvio Tendler. Tal qual Jango e Os Anos JK, documentários de sucesso realizados por Tendler na década de 80, Glauber – O Filme demonstra um incrível poder de comunicação, comprovado pela reação calorosa e emocionada da plateia em Brasília, que lhe concedeu o prêmio do júri popular. O encanto causado pela (re)descoberta do cinema e das ideias de Glauber Rocha foi tamanho que nos dias seguintes, segundo reportagem de um jornal local, os filmes de Glauber sumiram das prateleiras das videolocadoras da cidade.

Os dados acima já bastariam para que o documentário cumprisse sua função primordial: motivar o público em geral a enxergar Glauber distante da visão simplista oferecida por seus detratores nas últimas décadas, de um quase-louco que fazia filmes chatos e alegóricos. No Glauber retratado por Silvio Tendler, a genialidade de sua obra é ressaltada não por explicações acadêmicas de críticos e estudiosos, mas pela persona vibrante, corajosa e lúcida em sua quase loucura, expressa nos depoimentos de amigos e do próprio Glauber, que costuram o documentário.

Cada vez que Arnaldo Jabor, João Ubaldo Ribeiro, Hugo Carvana e Paulo Autran, entre outros, contam como foi conviver e trabalhar com o diretor de Terra em Transe, parece que o espectro de Glauber Rocha baixa neles. Há uma vibração e uma intensidade que Tendler valoriza e inteligentemente intercala com as preciosas imagens do velório e do enterro do cineasta, sublinhadas por uma trilha sonora dramática que exerce uma função semântica semelhante à que Glauber empregava com a música em seus filmes.

Essa dialética Glauber vivo-Glauber morto confere ao filme uma ressonância mítica legitimamente glauberiana, sem que se distancie da opção pelo didatismo. Há quem questione a eficácia e a qualidade das vinhetas computadorizadas que costuram o filme, ou ainda as imagens (sem áudio e sem emoção) de um show-tributo realizado no Canecão uma semana depois de sua morte, mas isso é pouco para tirar o mérito de uma obra que dá a Glauber a chance de, finalmente, conquistar a popularidade que ele sempre mereceu. (Marcelo Janot, site Críticos)

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