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EU ME LEMBRO
Fotografia de uma cena do filme. Três jovens embaixo de uma árvore, num dia ensolarado. Os três são brancos, tem cabelos castanhos claros, na altura dos ombros e usam barba e bigode. Aqui na frente, um está deitado, com a cabeça sobre uma pedra, do lado esquerdo. Ele usa camiseta tie die rosa e branca, calça xadrez preto e branca e sandálias de couro, toca uma gaita e ao lado da pedra, tem uma bolsa cru e laranja. Recostado na árvore, no centro, o segundo jovem, usa uma blusa de manga comprida, amarelo claro e laranja, calça jeans e sandália de couro. Está com as pernas encolhidas, tem os braços largados entre elas e olha para o que está com a gaita. O terceiro, está deitado à direita da árvore. Ele usa uma bandana azul na testa, uma camiseta tie die, branca e laranja e calça jeans. Tem o braço atrás da cabeça, que está sobre uma mochila marrom. Ele olha para o segundo. Atrás deles uma planície de grama verde e uma árvore pequena à direita.
Direção:
Edgard Navarro
BA, 2005, FICÇÃO, 108 min., Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS
Sinopse:

O filme acompanha o crescimento de Guiga, nascido na cidade de Salvador, numa época provinciana. No contato com a mãe, Aurora, descobre a sexualidade e seus limites. Com o pai, Guilherme, temível, austero e puritano exacerbado, viverá muitos conflitos. O garoto cresce movido pela culpa católica, marcada pela morte da mãe antes mesmo da adolescência. Quando jovem, o protagonista nutre raiva pelo pai e, durante a ditadura militar, vive sua fase mais ativa.

Crítica: Eu me Lembro (Brasil, 2005) do baiano Edgar Navarro poderá provocar uma nostalgia mesmo naqueles espectadores jovens, que não conheceram os anos 50, 60 e 70. É que, armado de doçura por um tempo perdido, mais um aguçado senso de mise-en-scène, Navarro nos brinda com um dos mais autênticos e comoventes filmes dos últimos anos feito no Brasil.

A partir do personagem Guiga (Lucas Valadares) – o alter-ego de Navarro na história – damos um passeio lúdico tomando início nos anos otimistas de JK, passando pelo choque da ditadura, pela esperança da revolução, pela brutalidade do Ato Institucional n° 5, descambando na “geleia geral” do universo hippie. Mas tudo isso passa em paralelo à vida do menino Guiga.

Nascido no meio do século 20, numa Salvador ainda provinciana, ele vê os fatos e notícias de um país em movimento funcionando como pano de fundo, mas também como a cartilha que rege os seus dias. Em cena, um personagem em conflito, incomodado pelas ideias prontas que lhe são oferecidas, desde a formação religiosa, com o medo e a culpa católicos, até as dúvidas e inseguranças da adolescência e juventude.

O filme é um recorte em primeira pessoa, cercado por personagens fáceis de encontrar em qualquer família humilde no Nordeste nos anos 50/60. Da criada, velha e negra e, ao mesmo, tempo rabugenta e querida, até a louca que transita na rua e assusta, ao mesmo tempo que instiga a curiosidade. Na adolescência, a descoberta da sexualidade, no espiar proibido das mulheres no banho, na leitura das revistas pornográficas. Na introdução à vida adulta, o conflito com os pais em função da liberdade de expressão e pela perspectiva de um mundo mais harmonioso a partir do “love & peace”.

Nesse cenário, uma série de elementos bem arranjados dão o tempero da vida desta época passada. Aqui dentro, a música ganha um status definidor. São melodias que guiam o sentimento do espectador. Transporta da memória para o espaço (re)criado por Navarro na tela.

O diretor baiano é um artista, e isso todos que conheciam suas obras anteriores, já sabiam. Eu me Lembro levou anos para ser concluído pelo cineasta. Quando pronto, ao invés de frustrar as gigantes expectativas, como normalmente acontece, provocou o efeito contrário. O resultado consolidou a sensibilidade do artista, obrigando o Brasil a abrir os olhos e ouvidos para ele, principalmente quando levou no Festival de Brasília 2005 sete Candangos: melhor filme, diretor, atriz (Arly Arnaud), ator coadjuvante (Fernando Neves), atriz coadjuvante (Valderez Freitas Teixeira) e o prêmio da crítica. Eu me Lembro é, enfim, filme obrigatório. (Luiz Joaquim, site Cinema Escrito)

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