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EU FUI ASSISTENTE DE EDUARDO COUTINHO
Fotografia de uma cena do filme. Em frente a um prédio antigo, um grupo grande de pessoas, com câmeras e celulares, estão direcionadas e olham um entrevistador aqui na frente. A maioria das pessoas são brancas e duas mulheres à esquerda são negras, uma delas tapa a boca com a mão. Ele é branco, magro, tem os cabelos lisos, pretos, com entradas na frente, usa uma camisa social azul clara e segura um microfone direcionado a alguém. Ele tem a testa contraída e o olho à esquerda sombreado.
Direção:
Alan Ribeiro
RJ, 2023, DOCUMENTÁRIO, 17 min., Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
LIVRE
Sinopse:

No dia 28 de janeiro de 2008, uma equipe de filmagem entrava em um prédio para rodar um documentário. Neste dia, eu fui assistente do Eduardo Coutinho.

Crítica: Eduardo Coutinho é muito lembrado e homenageado como um grande entrevistador, sendo inclusive objeto de documentários focados exatamente nessa dimensão específica do seu cinema: o método de entrevista. De fato ele era dono de uma sensibilidade muito acurada para abordar, instigar e sobretudo ouvir as personagens de seus filmes, mas Coutinho era também, e talvez principalmente, um investigador inquieto das possibilidades e limites estéticos do documentário. Essa é uma característica às vezes esquecida por cineastas brasileiros mais jovens que, apesar de tomarem o icônico diretor como referência, investem pouco no rigor formal.

O curta-metragem Eu Fui Assistente do Eduardo Coutinho, de Allan Ribeiro, felizmente escapa dessa tendência e estabelece um diálogo reverencial coerente com o cinema de Coutinho. Se o título evoca um relato mais convencional de uma experiência profissional, a realidade do filme vai muito além disso. A história de Allan com o mestre documentarista é bem mais atravessada pela ficção do que marcada por um mero aprendizado prático do ofício: ele na verdade interpretou um assistente de direção de Coutinho numa cena cortada de um curta seu, Depois das Nove (2008) – logo, também dirigiu o cineasta, isso anos depois de, em outro curta, Boca a Boca (2003), referenciá-lo na fala de um personagem.

Nesse sentido, Eu Fui Assistente do Eduardo Coutinho tateia as fronteiras entre real e ficcional, verdadeiro e honesto, sem exibicionismos, de um jeito franco, discreto e bem-humorado. Coutinho ficaria orgulhoso. Mas, acima de tudo, ao retomar o material filmado em 2008 e trazer o diretor de Cabra Marcado para Morrer (1984) e Edifício Master (2002), entre tantos outros, de volta à vida em imagens inéditas, Allan constrói uma bonita reflexão sobre como tudo que é deixado de fora de um filme também compõe a história e a memória do cinema. Os filmes como essa máquina de produzir vestígios da vida e deixá-los no mundo. (Wallace Andrioli, site Plano Aberto)

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