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ESTRANHO CAMINHO
Lá embaixo, no meio de uma rua, à noite, uma pessoa de camisa de manga comprida, amarelada, enrolada até o cotovelo, bermuda azul e calçado, está com os braços ao lado do corpo, estático. Alguns imóveis antigos à esquerda, tem luzes acesas e do outro lado, a luz de um poste reflete no telhado de uma casa, na rua e na pessoa. De um poste a outro emaranhado de fios.
Direção:
Guto Parente
CE, 2023, FICÇÃO, 83 min, Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 14 ANOS
Sinopse:

Sinopse: Um jovem cineasta que visita sua cidade natal é surpreendido pelo rápido avanço da pandemia e precisa encontrar seu pai, com quem não fala há mais de dez anos. Depois do primeiro encontro, coisas estranhas começam a acontecer.

Crítica: "Nas primeiras imagens de Estranho Caminho, David (Lucas Limeira) tem um estranho sonho com o pai. O rosto deste homem surge tal qual uma fantasmagoria, em múltiplas cores, através de flashes insistentes. O rapaz terá outros problemas com que se preocupar — o início da pandemia de Covid-19 em Fortaleza, a exibição de seu longa-metragem de estreia num festival de cinema —, no entanto, a questão paterna corresponde ao dilema central, capaz de mover a narrativa.

Trata-se de uma obra de deslocamentos, ainda que em círculos. O projeto abraça a aparência de abandono deixada pela crise sanitária. As restrições chegaram sem que se acreditasse de fato em sua gravidade, ou se pudesse prever a duração do fenômeno. As pessoas ainda se encontravam, no entanto, com receio de se tocar, e questionando a eficácia das medidas adotadas. Colocaram máscara, tiraram máscara, desinfectaram as compras, fecharam as portas. Desaprendemos a lidar com o corpo e a presença do outro, enquanto sentimos a necessidade crescente de afeto e contato humano.

Estranho Caminho se mostra uma obra generosa com o público, no sentido de esclarecer as suas metáforas, acompanhar os dilemas de maneira linear e clara, e garantir uma recompensa emocional na conclusão. Neste contexto de contradições se insere a busca de David pelo pai. O garoto mente a si próprio, declarando não ter interesse na reunião com o sujeito por quem foi abandonado. Em contrapartida, desloca-se quase automaticamente à casa deste homem quando se vê em situação de necessidade. De certo modo, o perigo típico da Covid, de encostar em alguém, ou de ser mortalmente afetado por quem se ama, representa muito bem a situação do personagem central. O coronavírus opera tanto na função de lembrete de um passado recente quanto de metáfora para um estado de espírito.

O diretor Guto Parente se esforça para combinar, com sutileza, a naturalidade das falas e a estranheza das situações. Por um lado, as conversas de David com a esposa portuguesa e os amigos locais carregam uma espontaneidade e riqueza de vocabulário bastante comuns no registro oral, e raros de encontrar em diálogos cinematográficos. É possível acreditar na interação entre estes personagens graças, sobretudo, à maneira como se portam e comunicam. Neste sentido, proporcionam uma bela crônica da juventude cearense contemporânea." (Bruno Carmelo, site Meio Amargo)

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