Priorizando uma abordagem poética, o documentário apresenta Dorival Caymmi como uma maneira de ser, de existir, de pensar. O filme re-centraliza a racialidade do compositor e analisa sua obra a partir de perspectivas negras.
Texto crítico:
“Como a parábola de apresentação corriqueira, onde se inicia com o “Não há o que falar sobre…”, onde sempre há o que dizer, Caymmi é a síntese da máxima brasilidade. Às faces de um Brasil de praias, coqueiros e libidos exacerbados, o cantor, compositor, filósofo de múltiplos adjetivos profissionalizantes que se encerram em sua Bahia. Construiu a síntese didática-dialética do baiano e suas reverências ao verbo e a transição, Dorivando Saravá, O Preto Que Virou Mar é gira de Xangô, Oxum, Iemanjá, Iansã e oxalá que a Bahia de todos os santos consuma o assobio que segue unindo as praias da África e do Nordeste Brasileiro.
O feito de Dorivando Saravá, o Preto Que Virou Mar é não ceder ao formulaico das produções documentais, projetar esse passado como uma tradição ancestral que permanece no solo brasileiro como um sopro cultural das identidades múltiplas, sobrepostas. Pois se preocupa com a praia, a areia e os depoimentos como homenagem ao que não pode ser substantivado, adjetivado. Brasilidade não é um termo, é um modo de viver, enxergar e agir. E Caymmi não apenas possuía consciência disso, como fez de sua vida um firmamento para tal. A Academia que se curve à sua família, que Stella já deu o papo. Uma das importâncias do filme dirigido por Henrique Dantas é formalizar as transas no tempo, a necessidade de se olhar para trás com o respeito que a tradição nos mantém. São muitas gerações a conjugar seu nome, como um ritual, afinal, Meu pai veio da Aruanda e a nossa mãe é Iansã. “Meu pai Ogum mandou chamar. Eu vim, eu vim de lá. Ele me ensinou coisas sobre amor. E que na paz só se chega com a guerra. E que toda bonança do trono do rei Xangô. Só vai conhecer quem for justo na Terra”.” (Vitor Velloso, site Vertentes do Cinema)