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CURACANGA
Uma cena da animação, em preto e branco. À esquerda, recostada na porta da cozinha, que tem uma cortina recolhida à direita, com estampa de semicírculos vermelhos, uma mulher de cabelos claros, presos na nuca, usa um colar, uma bata clara e uma saia com estampa de círculos claros, dentro de escuros. Ela está com os braços cruzados e observa um homem que está sentado, de perfil direito, diante da mesa. Ele é magro, tem os cabelos curtos claro, usa uma blusa de manga comprida, arregaçada até o cotovelo, uma calça social, cinza claro e botinas. Acima da cabeça, um candeeiro ilumina ele, um vaso próximo à parede ao fundo e um prato de comida, com detalhes vermelhos. Na parede, à direita, ao lado da cozinha, numa prateleira um São Jorge, tem a coroa, um lenço no pescoço e a crina do cavalo vermelhas e um quadro ao lado. Abaixo, uma imagem quase transparente, de uma criança e mais abaixo, uma mesa com uma máquina de costura, um cesto e tecidos dobrados. E no canto superior direito, um calendário, com uma árvore seca.
Direção:
Mateus di Mambro
BA, 2023, FICÇÃO, 18 min., Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Sinopse:

O mundo de Agustinho ganha um novo significado após conhecer Jaciara e se apaixonar imediatamente por ela. Cego pela paixão, o jovem decide caçar um ser mitológico na tentativa de trazer conforto para a amada.

Crítica: Os mitos folclóricos brasileiros são muito pouco (re)contados e explorados no cinema nacional e nas narrativas em geral. O curta baiano de animação Curacanga resgata um pouco dessa tradição oral ao se basear em uma história mítica originária do norte do país, mas adaptada à zona rural baiana - embora a floresta vista no filme se pareça com uma mata amazônica. A esse cenário natural, soma-se um tratamento associada à cultura popular sertaneja, tanto em relação ao texto como à poética narrativa, algo que remete à literatura regional de um Guimarães Rosa ou de Euclides da Cunha, aliando a poesia bruta do sertão com certa melancolia interiorana.

Mas o que importa ao filme, para além do clima de terror e medo que se estabelece na sua ambientação, é falar dos desejos humanos e dos perigos desse desejo, especialmente quando se quer mais do que você talvez precise ou dê conta de suportar. A história de um homem que tenta caçar essa criatura escabrosa a mando da mulher amada, que vive em luto pela morte da irmã pequena, supostamente morta pela Curacanga, fala de vingança, mas está ligada também ao amor incondicional que o protagonista sente por ela. E isso o faz partir em uma jornada cega rumo ao desconhecido. Ele vai ter de superar não apenas o medo de enfrentar esse ser maligno, mas terá de lidar também com os segredos humanos mais íntimos.

O curta possui um trabalho técnico de animação competente e muito cuidadoso, não só pelos desenhos feitos à mão e pelo design dos personagens, mas também em termos de efeitos de luz e som. O clima de suspense e medo vai contagiando o filme à medida que o encontro com a figura misteriosa parece cada vez mais inevitável. O filme não poupa o espectador de imagens medonhas, incluindo a própria manifestação do Curacanga. Mas o medo maior reside na cruel verdade que se revela para o personagem. (Rafael Carvalho)

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