O mundo de Agustinho ganha um novo significado após conhecer Jaciara e se apaixonar imediatamente por ela. Cego pela paixão, o jovem decide caçar um ser mitológico na tentativa de trazer conforto para a amada.
Crítica: Os mitos folclóricos brasileiros são muito pouco (re)contados e explorados no cinema nacional e nas narrativas em geral. O curta baiano de animação Curacanga resgata um pouco dessa tradição oral ao se basear em uma história mítica originária do norte do país, mas adaptada à zona rural baiana - embora a floresta vista no filme se pareça com uma mata amazônica. A esse cenário natural, soma-se um tratamento associada à cultura popular sertaneja, tanto em relação ao texto como à poética narrativa, algo que remete à literatura regional de um Guimarães Rosa ou de Euclides da Cunha, aliando a poesia bruta do sertão com certa melancolia interiorana.
Mas o que importa ao filme, para além do clima de terror e medo que se estabelece na sua ambientação, é falar dos desejos humanos e dos perigos desse desejo, especialmente quando se quer mais do que você talvez precise ou dê conta de suportar. A história de um homem que tenta caçar essa criatura escabrosa a mando da mulher amada, que vive em luto pela morte da irmã pequena, supostamente morta pela Curacanga, fala de vingança, mas está ligada também ao amor incondicional que o protagonista sente por ela. E isso o faz partir em uma jornada cega rumo ao desconhecido. Ele vai ter de superar não apenas o medo de enfrentar esse ser maligno, mas terá de lidar também com os segredos humanos mais íntimos.
O curta possui um trabalho técnico de animação competente e muito cuidadoso, não só pelos desenhos feitos à mão e pelo design dos personagens, mas também em termos de efeitos de luz e som. O clima de suspense e medo vai contagiando o filme à medida que o encontro com a figura misteriosa parece cada vez mais inevitável. O filme não poupa o espectador de imagens medonhas, incluindo a própria manifestação do Curacanga. Mas o medo maior reside na cruel verdade que se revela para o personagem. (Rafael Carvalho)