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CENTRAL DO BRASIL
Fotografia de uma cena do filme. Sentados, Dora e Josué (Fernanda Montenegro e Vinicius de Oliveira) se olham intensamente, com as sobrancelhas contraídas. Estão entre várias pessoas negras, vestidas de branco, duas mulheres com lenços, um homem com chapéu de palha, outro com uma conta azul e branca. Os dois são brancos. Dora tem os cabelos lisos, ruivos, na altura dos ombros, está com uma camisa de botão, bege, de manga curta, uma calça vinho e segura a bolsa sobre o colo. Josué, Tem os cabelos curtos, lisos, pretos, usa uma camisa de botão, acizentada, de manga curta e um shorts preto. Ele está recostado nela, que o abraça no ombro.
Direção:
Walter Salles
RJ, 1998, FICÇÃO, 113 min., Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Sinopse:

Dora, uma amargurada ex-professora, ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas, que ditam o que querem contar às suas famílias. Ela embolsa o dinheiro sem sequer postar as cartas. Um dia, Josué, o filho de nove anos de idade de uma de suas clientes, acaba sozinho quando a mãe é morta em um acidente de ônibus. Ela reluta em cuidar do menino, mas se junta a ele em uma viagem pelo interior do Nordeste em busca do pai de Josué, que ele nunca conheceu.

Crítica: Central do Brasil tem a simplicidade dos grandes filmes. Tem um início que impressiona e prende a atenção do espectador. Quando nos damos conta, o filme está caminhando para seu final e, neste meio-tempo, já rimos, choramos e torcemos para nossos - reparem o 'nossos' - personagens.

Sim, este é um daqueles filmes que conseguem a proeza de praticamente transformar os personagens em nossos amigos pessoais. Nos importamos com eles, choramos por eles, queremos ajudá-los. Se dizem algo de terrível (como Fernanda Montenegro faz, em alguns momentos), tendemos a perdoá-los, a relevar a ofensa. Eles são 'de casa'.

O roteiro, de João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, conta uma história pungente, onde a maior riqueza está nos motivos que impulsionam os personagens. O fato é que Dora se vê, em parte, no lugar de Josué, transferindo suas próprias frustrações em relação a seu pai para o garoto. Ela é uma cínica, descrente. Para esta mulher, a vida nada mais é do que uma sucessão de dias. Não existe amor ou nobreza no mundo. Todas as pessoas que lhe ditam cartas possuem, em sua visão, algo de podre ou obscuro. Dora perdeu, em parte, sua própria humanidade.

Porém, durante sua viagem ao lado de Josué, ela é obrigada a enxergar o mundo e não apenas vê-lo. São coisas miúdas, como a generosidade de um itinerante que lhe oferece um pouco de sua parca refeição, ou a gentileza de um caminhoneiro que - o que é raro - consegue penetrar através de sua armadura. E, além disso, o fato de que Josué precisa dela. Talvez o garoto seja a primeira pessoa que depende de Dora em toda sua vida - e ela gosta de se sentir responsável por alguém. Não a princípio, é claro, mas gradualmente ela passa a gostar.

Até que, finalmente, ela se vê reconciliada com seu próprio pai - e com o de Josué. Ela consegue admitir que houve bons momentos, como aqueles em que seu pai permitia que ela acionasse o apito da locomotiva que dirigia. Pode existir amor no mundo, afinal de contas. (Pablo Villaça, site Cinema em Cena)

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