Em 1964, dias após o golpe militar, Gustavo Dahl, cineasta e pensador do cinema brasileiro, escreve uma carta para o amigo Glauber Rocha, que estava em Cannes apresentando seu filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.
Crítica: O vídeo-ensaio é um formato documental bastante difundido entre os adeptos do cinema documental experimental por seu formato livre, que permite a execução de ideias de forma complexa e até mesmo abstrata. Diante disso, o cineasta Gregory Baltz concebe, em parceria com Catarina Dahl, o filme Carta para Glauber, um curta ensaístico epistolar, feito a partir da leitura de uma carta do ex-diretor Gustavo Dahl para o ícone do cinema brasileiro Glauber Rocha.
É uma ode ao legado de dois dos maiores expoentes do Cinema Novo brasileiro, que erigiu as bases da produção audiovisual autóctone do país. Durante todo o ensaio, são mostrados excertos das obras mais famosas de Glauber e de Gustavo, que, convenientemente ou não, são alguns dos maiores sucessos do movimento. Enquanto o espectador se encontra atônito ao apreciar as imagens, ouve-se a voz de Catarina lendo a epístola escrita por seu já falecido pai. Sucinto na elaboração, o curta entrega na eficiência com a qual ele consegue mexer com o emocional dos fãs de cinema, despertando neles um sentimento de nostalgia inefável.
De certa forma, escrever uma crítica sobre este curta configura como um exercício metalinguístico, pois o autor passa a primeira parte de sua mensagem expondo suas opiniões no tocante a Deus e o Diabo na Terra do Sol e a Barravento, analisando nuances do discurso de ambos os filmes. No segundo ato – se é que se pode classificar assim – é traçado um paralelo interessante entre o clássico glauberiano Terra em Transe e o discurso a respeito da ditadura militar. É válido lembrar que a carta foi escrita em meio à queda de Jango e a insurgência dos militares, nos momentos incipientes do período. É impressionante observar a genialidade com que Glauber, arauto da subversão, critica o regime ditatorial através de analogias e alegorias imagéticas, que representavam os tropos da sociedade da época. (Bernardo Castro, site Vertentes do Cinema)