Sinopse: Nos anos 1980, em uma baile de black music na periferia de Brasília, ocorre uma ação policial onde dois homens acabam ficando feridos e têm suas vidas marcadas por esse acontecimento permanentemente. Um terceiro homem vem do futuro para investigar o ocorrido e provar que a culpa é da sociedade e seus mecanismos de repressão.
Crítica: "A última coisa que se vê em Branco Sai, Preto Fica é uma cartela escrito “Da nossa memória fabulamos nóis mesmos”, assinada com local (Ceilândia) e data (Jan/14). É tanto uma declaração de princípios do cinema de Adirley Queirós – todo ele voltado a reencenar a Ceilândia com ela mesma, de buscar uma ficção que dê conta da exclusão da cidade satélite – e o último passo do processo demonstrativo do filme. Tudo em Branco Sai, Preto Fica existe para jogar uma luz sobre seu próprio mistério, e colocar seu processo às claras.
Se A Cidade é uma Só? (2011), longa anterior de Queirós, tinha uma grande força, isto se dava em parte por ser ao mesmo tempo um filme que evoluía naturalmente desse desejo de fabular a história e a condição da Ceilândia, presente nos curtas e médias anteriores do realizador.
Branco Sai, Preto Fica é quase uma inversão do filme anterior. Num primeiro momento, é notável como a imaginação de Adirley Queirós propõe filtrar nosso estado policial. A simplicidade de recursos e suas várias soluções criativas para representar esse estado de relações tão próximo sob a chave da ficção científica lhe emprestam um frescor. Esse estado resiste no filme com um peso especial na maneira como Branco Sai, Preto Fica ilustra nossa herança maldita do regime militar, nossa incapacidade de se afirmar diante deste estado policial. O resgate da violência do estado para além dos limites 1964-1985, dentro dos quais o cinema brasileiro costuma se colocar de maneira até certo ponto confortável, não é exatamente inédito, mas poucos filmes o fizeram de forma tão contundente e tão clara sobre o seu caráter institucional.
Surge daí um dos paradoxos mais curiosos do filme: se a apresentação de ficção científica lhe serve de gancho com um verniz próprio, é sempre o material documental que se revela mais notável. A tentativa da ficção científica permanece sempre incompleta, travada por uma montagem dura que emperra o drama. São os corpos de Marquim e Shokito, as ruas da Ceilândia, as fotos que retomam a história, que resgatam o filme e o mantém vigoroso. A ficção fraqueja e o documental a resgata, e os traços de um processo de destruição são o que o filme carrega consigo." (Filipe Furtado, site Revista Cinética)