BLACK RIO! BLACK POWER!
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Direção:
Emílio Domingos
RJ, 2023, DOCUMENTÁRIO, 75 min., Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Sinopse:

Sinopse: A influência do movimento Black Rio na cultura, sociedade e nos processos de luta por justiça racial no Rio de Janeiro e no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980. O impacto do movimento na música e nos rumos da política e do movimento negro no período de redemocratização, influenciando gêneros como o hip-hop e o funk, e a postura afirmativa das mais novas gerações, que perpetuam o orgulho negro e a valorização estética difundidos pelo Black Rio há 50 anos.

Crítica: “Centrado em figuras determinantes para a criação e ascensão do Movimento Black Rio na cidade do Rio de Janeiro (RJ), entre 1972 e 1977, caso de Dom Filó, o documentário expõe fotos da época para que o espectador visualize a estética dos bailes da pesada organizados por equipes como a pioneira Soul Gran Prix.

Contudo, a matéria-prima do roteiro são os depoimentos de nomes como o citado Dom Filó, Carlos Alberto Medeiros, Carlos Dafé, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Virgilane Dutra. Personagens de história real, os entrevistados rememoram, de forma às vezes até didática, como se formou a consciência negra dos jovens do subúrbio carioca dos anos 1970 naqueles bailes, pontos de resistência, de acolhimento e da exposição de orgulho negro, simbolizado pelo cabelo black power.

Nesse sentido, Black Rio!! Black Power!! é o irmão carioca do recente Chic Show (2023), filme do mesmo diretor Emílio Domingos, mas em parceria com Felipe Giuntini.

Se o foco do documentário Chic Show é o orgulho despertado nos jovens negros paulistanos pelo bailes da equipe que dá nome ao filme, Black Rio!! Black Power!! mostra como os bailes da Soul Grand Prix deram voz e identidade ao jovem negro carioca a partir da disseminação do soul, do funk e da ideologia do cantor norte-americano James Brown (1933 – 2006), referência para toda a juventude planetária.

O roteiro parte do Grêmio Social Esportivo Rocha Miranda – clube do subúrbio carioca caracterizado pelos entrevistas como o “templo do soul” – e desemboca no mesmo lugar após ter exposto a construção e o legado desse orgulho negro que assustou e incomodou o sistema, incluindo a polícia, a mídia e o governo repressor do Brasil.

Os relatos de racismo demolem o insustentável mito da democracia racial brasileira. Se os jovens levavam duras cotidianas da polícia quando estavam fora do ambiente protegido dos bailes, queixa reiterada por vários entrevistados, a expansão do movimento fez com que a mídia cobrasse dos jovens negros um nacionalismo risível.

Impressiona a reprodução no filme de trechos de reportagens que questionavam os jovens por não estarem dançando e ouvindo samba – e comendo feijoada, símbolo brasileiro da culinária carioca. Com tal comportamento, a mídia da época forjou rivalidade inexistente entre o samba e a cultura soul / funk dos bailes. Até porque futuros bambas, como Arlindo Cruz, frequentavam o baile, como lembra Dom Filó.

Tão ou mais nocivo é o relatório do Departamento de Ordem Política e Social – o temido Dops, um dos piores agentes da repressão da época – que alertou o governo sobre imaginadas segundas intenções dos organizadores e do público dos bailes. O filme acerta ao expor o relatório do Dops – lido por Dom Filó – para explicitar que nenhum exagero há nas falas dos entrevistados, unânimes em apontar a perseguição do status quo aos jovens negros.

Esse sistema conseguiria esvaziar os bailes – sem jamais ter conseguido anular a força do pensamento negro – com a propagação da disco music a partir de 1978, ano em que Filó sai do Movimento Black Rio, que já havia gerado em 1977 a banda Black Rio.

Os bailes perderam público para as discotecas, mas ficou o legado, absorvido a partir da década de 1980 pela geração do hip hop brasileiro, como ressalta Filó. O movimento acabou quando as cabeças já estavam feitas, literal e metaforicamente. Permaneceram o pensamento – como resume Dom Filó em fala lapidar ao fim do documentário – e o orgulho negro, já disseminado na historicamente racista sociedade brasileira.” (Mauro Ferreira, site G1)

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