AOS OLHOS DE ERNESTO
Fotografia de uma cena do filme Aos olhos de Ernesto, de Ana Luiza Azevedo Numa cozinha de paredes de azulejo com arabescos dourados e cinza, à frente de um armário de cozinha, suspenso, de portas brancas, da cintura pra cima um senhor branco, calvo e poucos cabelos pretos nas laterais, barba e bigode grisalhos. No rosto magro, tem a testa franzida, as sobrancelhas arqueadas, o olhar distante, para a direita. Usa camisa social toda abotoada, amarela com listas verticais, azul e marrom e um casaco de lã marrom com desenhos brancos na frente. De punhos cruzados, ele segura uma cuia com a bomba de chimarrão na mão esquerda e uma térmica de alumínio na direita.
Direção:
Ana Luiza Azevedo
RS, 2019, FICÇÃO, 150 min, Cor, DCP/H264
Classificação indicativa:
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 12 ANOS
Sinopse:

Sinopse: Ernesto enfrenta as limitações da velhice, como a solidão e a cegueira crescente. Ao se tornar viúvo, ele aprende que envelhecer é encher os silêncios com as ligações de seu filho que mora longe, com os recados do banco para retirar sua pensão, com as visitas de seu vizinho Javier, com a espera por uma nova carta de Lucía. No entanto, a cuidadora de cães Bia entra em sua vida, e Ernesto passa a perceber que o envelhecimento pode também ser rejuvenescedor.

Crítica: "Uma das sócias fundadoras da Casa de Cinema de Porto Alegre, a cineasta Ana Luiza Azevedo tem seu nome nos créditos de vários projetos importantes na história da produtora gaúcha, seja como roteirista ou codiretora, mas, poucas vezes, é dada a devida atenção aos seus trabalhos solo. Uma década depois de seu primeiro longa-metragem, o coming of age Antes Que o Mundo Acabe (2009), a diretora retorna com Aos Olhos de Ernesto (2019), em que seu interesse sai do retrato exclusivo da adolescência para a outra ponta geracional, que já foi abordada pela realizadora e Jorge Furtado no telefilme e minissérie Amor de Mãe (2012/2014). Dividindo a escrita do roteiro com seu parceiro de longa data, ela traz uma história de encontro da juventude com a terceira idade, que já rendeu ao filme prêmios da crítica na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do público em um festival na cidade uruguaia de Punta del Este.

Mesmo aos trancos, os dois protagonistas do filme vão se aproximando e transformando um ao outro de várias maneiras. Se a garota descobre o prazer das cartas, não necessariamente pelo meio de comunicação em si, mas pelo esmero em cada palavra colocada e a espera por sua resposta, também mostra a Ernesto a facilidade das redes sociais para se encurtar distâncias, enquanto este demonstra a paciência necessária para esperar o aprendizado de Bia, apesar de suas irresponsabilidades pueris. Por isso, é no plano emocional que essa amizade ajuda ambos a preencherem o vazio de suas solidões e ressignificarem o que é amor para cada um.

Neste sentido, vale frisar que o filme toca em importantes temas como a violência contra a mulher, fazendo-o de maneira mais orgânica dentro da trama do que outros assuntos brevemente citados. Quanto à questão principal, aborda o envelhecimento usando da delicadeza e do humor, a exemplo da excelente cena do xadrez com os amigos disputando seus índices de glicose, colesterol e afins. Na latente preocupação do texto e da direção de Azevedo em valorizar os retratos humanos e relações interpessoais em sua história, frente a qualquer exibicionismo estético, Aos Olhos de Ernesto é o cinema dando a vida que a sociedade, muitas vezes, pensa não existir ou suprime das pessoas ao avançar da idade, como exclama o protagonista em sua mensagem final." (Nayara Reynaud, site Nervos)

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