Sinopse: Maria é filha de um pastor evangélico cheio de segredos. Certa noite, pai e filha são seguidos por uma estranha figura encapuzada.
Crítica: “Faz um bom tempo que o cinema de suspense e terror no Brasil segue uma ótima fase, com muitos realizadores engajados e entusiastas pelo gênero fazendo filmes muito diversos e de múltiplas abordagens. Na Bahia não é diferente, e o jovem realizador Calebe Lopes é um dos nomes principais a se enveredar nessa seara. A Triste Figura é um dos vários curtas de horror que ele dirigiu nos últimos anos e, como os melhores filmes do gênero, usa os elementos do medo e do desconhecido não apenas para criar apreensão e suspense, mas para revelar facetas socioculturais de um país marcado por contradições.
No filme, um pastor e sua filha são assediados e perseguidos por uma figura encapuzada, misteriosa, medonha. Antes disso, vemos o pastor na igreja expulsando o diabo do corpo de fiéis supostamente possuídos. A carga de terror que existe nessa prática feita por muitas igrejas evangélicas e neopentecostais já seria razão suficiente para enquadrar o filme no gênero, mas o roteiro investe nos dramas pessoais e nas cicatrizes familiares que rondam a vida íntima de pai e filha – o paradeiro da mãe é uma questão central aí. O filme aglutina, portanto, uma dimensão macro (as diretrizes e crenças religiosas que regem a vida daqueles dois) em contraponto com uma dimensão micro (os anseios de uma filha que deseja se libertar de uma opressão ideológica). No fim das contas, o que nos persegue são as nossas próprias criaturas interiores, alimentadas pelo medo que nós mesmos criamos na relação com o outro. A desculpa é sempre proteger aqueles que amamos – ou enganar os fatos para que a verdade não venha à tona com tanta clareza e força –, mas quem é que nos protege de nossos demônios?" (Rafael Carvalho)